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Guimarães é a cidade-berço de Portugal. Patrimônio Mundial da UNESCO, é o 4o. destino mais visitado entre as cidades que receberam o título. “Isso é qualquer coisa de extraordinário. (O título) não é pela excelência de um edifício, mas pela uniformidade de um conjunto que atravessa várias idades”, explica o arquiteto português Manuel Roque (Pitágoras Group), com quem tivemos o prazer de caminhar pelas ruas e praças e aprender sobre Guimarães.
Além disso, Guimarães foi a capital europeia da cultura em 2012, por conta da sua vasta programação cultural, e que também desencadeou novos projetos. Um dos destaques é a Plataforma das Artes José de Guimarães, projeto do arquiteto, que também é responsável por diversos outros edifícios na cidade.
Mas nem sempre foi assim. Cerca de 40 anos atrás, o centro histórico estava abandonado e era até mesmo perigoso. Localizada no Vale do Rio Ave, a cidade teve sua economia mantida pela indústria têxtil, que se desfez com a abertura dos mercados à Ásia. “Houve uma depressão e a cidade precisou encontrar um novo paradigma, através de um patrimônio histórico rico.” Aos poucos, o poder municipal foi revitalizando o espaço público, iniciando por algumas praças. A reconstrução dos edifícios ficou a cargo dos particulares, que o fizeram como um efeito de contágio.
Com a revitalização, o centro histórico voltou a funcionar como uma sala de estar da cidade. Hoje, é um local turístico, com restaurantes, cafés e lojas típicas. Mas também é habitado, como explica Manuel: “Não é uma casinha de bonecas, uma Disneylândia animada, de fato as pessoas vivem aqui.”
Chama a atenção em Guimarães o uso que se tem da cidade, de encontrar pequenas mercearias no caminho, por exemplo. Em oposição ao movimento moderno, que preconizou a separação de funções, as cidades baseadas na escala humana devem abraçar a multifuncionalidade. “É precisamente o contrário de todo o modelo que nós conhecemos, que se assenta no uso do carro. Vou ao shopping, depois vou ao condomínio, e entre eles não é terra de ninguém, é vidro fechado, é carro. Essa formulação do espaço urbano falhou completamente, isso é a antítese do que é uma cidade. O grande erro do movimento moderno tem a ver precisamente com a formulação das cidades”, lamenta Manuel, um grande admirador da arquitetura moderna.
A multifuncionalidade, os pequenos comércios tradicionais, a habitação fixando as pessoas que lá habitavam e outras que poderão surgir, o desenho que desencoraja o uso do automóvel, a uniformidade das calçadas, as praças vivas, as pequenas surpresas do caminho, os relevos de fachada e artes urbanas, os sabores e doces típicos: esses elementos são essenciais para as cidades humanistas. “Não tem que inventar muito mais. A cidade é sempre um ponto de encontro.”