Situação comum em médias e grandes cidades brasileiras, canalizar ribeirões ou córregos não é uma invenção tropical. Na Europa, esse tipo de intervenção já data do século 19. Foi a aposta para retificar cursos d´água, ampliando o espaço para construções ou criando espaço para abrir ruas.
Em Munique, por exemplo, são 175 quilômetros de cursos d’água correndo pelos subterrâneos. A organização Green City analisou um desses córregos que tem condições para novamente correr ao ar livre. O estudo revelou que isso pode acontecer com o ribeirão que atravessa a Herzog-Wilhelm-Straße, na região central.
Hoje, a água corre por ali quatro metros abaixo do solo. Ele retornaria à superfície com o auxílio de bombas ou turbinas, autossuficientes em energia e mais ecológicas – a própria energia gerada pela água do rio seria utilizada para que parte dele voltasse à superfície. Mas afinal, porque desenterrar córregos?
Os motivos são inúmeros. O contato das pessoas com o rio, o retorno da fauna, atraída pela água, e mesmo o ressurgimento da flora às margens são importantes dentro da ideia de renaturalização e de uma melhor qualidade de vida.
Mas um destes motivos é bastante persuasivo: climatização. Ribeirões e córregos, naturalmente, resfriam o ambiente. Nos dias com maior calor, corredores de ar fresco são muito importante para regular as temperaturas locais. E quando a água de tais cursos está abaixo da temperatura ambiente, o ar que circula com a correnteza produz justamente esse efeito refrescante.
Os brasileiros têm a ideia de que, mesmo no verão, as temperaturas são agradáveis nas cidades alemãs. Nem sempre! Os dias quentes são tão incômodos como os de nossa alta temporada. Até mesmo idosos deixam de sair de casa por causa do calor. Aí, sempre vale curtir o ar livre às margens de rios, fontes, ou nos parques que oferecem os esguichos de água tão festejados pela criançada.
O modelo mais conhecido quando se remete à climatização são os bächle, pequenos cursos de água, correndo por valas que se entrelaçam pela parte central de Freiburg. Concebidos há séculos, tinha a função de abastecer a cidade de água, também utilizada para o combate a incêndios.
Com o tempo, inspiraram lendas – dizem que, quem cruza um desses canais por cima, sempre retornará à Freiburg, e quem pisa acidentalmente em um deles casa com alguém local.
Outra importante função, no entanto, é climatizar o Centro desta charmosa cidade universitária. Abertos na maior parte do ano, os bächle conseguem tornar a região, bastante edificada, um local mais agradável nos dias de calor.
Por isso, chega a causar perplexidade a dificuldade com que muitos brasileiros aceitam projetos para retirar os ribeirões de grandes cidades de tubulações e devolvê-los ao ar livre. Os benefícios são inúmeros, e impactam positivamente na qualidade de vida tão precária de nossos maiores centros.