Queremos cidades mais integradas com os rios. E uma boa maneira de elaborar novas propostas começa com estudos de caso, conhecendo boas soluções já executadas.
Porém, a maioria das referências de revitalização traz uma imagem de rio com margens de concreto e muita interferência humana, como degraus, decks e mobiliário urbano. São as imagens que chegam ao poder público e à sociedade. Essas ideias geralmente se referem a um rio localizado em área central, que fora intensamente modificado ou estava muito degradado, com pistas de automóveis nas margens, canalizado e até mesmo enterrado. Nesses casos, faz todo o sentido lançar mão de abordagens mais urbanas. Há exemplos bem conhecidos de revitalização nesse conceito, como o rio Cheonggyecheon (Coreia do Sul) e o rio Manzanares (Espanha). São soluções interessantes (que vão além da estética), mas as imagens deveriam vir acompanhadas da reflexão do “antes x depois”, para demostrar a evolução em relação a uma situação anterior bastante desfavorável.
Mas esse não é o caso de muitos rios em cidades brasileiras. Não faz sentido derrubar longos trechos de mata ciliar, e muito menos construir muros de concreto, com o objetivo de deixar o rio parecido com a imagem da referência internacional. Não é só através do conceito estético (e dessa tentação que nós arquitetos temos de desenhar elementos arquitetônicos fortes e linhas expressivas) que se faz uma boa integração entre o rio e a cidade. Há vários bons exemplos que integram cidade e natureza através dos rios.
O meu preferido é com certeza o rio Isar (Alemanha). O rio que cruza a cidade de Munique era contido em margens fixas e retificadas, cenário que foi requalificado com a sua renaturalização. A renaturalização, ou seja, permitir que o rio volte a ser mais natural, tem 3 objetivos: melhor proteção contra cheias, melhores condições para a fauna e flora e melhores espaços públicos para o lazer das pessoas. Isso incluiu a retirada do concreto e das pedras que continham o desenho reto do Isar, proporcionando contornos mais naturais.
Time lapse das obras de renaturalização do Isar. A ideia é dar mais espaço para o rio.
Fotos: Walter C. Weingaertner