A Holanda é um país excepcional quanto a sua infraestrutura para mobilidade. Autoestradas ligam grandes cidades e o transporte ferroviário atende tanto a passageiros como ao transporte de carga. Existem canais em boa parte das cidades baixas, que funcionam para drenar a agua que brota do solo, e que também são utilizados para transporte pesado.
Estivemos em Haia, e resolvemos ir até Amsterdam de bicicleta. Aos olhos de um brasileiro, isso pode soar um tanto perigoso, já que ligações entre grandes cidades costumam vir acompanhadas de trânsito intenso, veículos pesados, poluição, grandes parques fabris e paisagens monótonas. Mas esse não é o caso do percurso entre as duas cidades Holandesas.
Não tínhamos um planejamento muito detalhado do caminho que iríamos percorrer, mas a intenção era esta: avaliar a conectividade da malha cicloviária, a segurança do ciclista em relação aos veículos motorizados, perceber quais perfis de pessoas fazem o uso desta infraestrutura, as paisagens, os atrativos do caminho, e como tudo isso se reflete na qualidade de vida da população. Ao longo de canais, lagos, rios e estradas de ligação, é comum haver caminhos menores, que são utilizados por ciclistas e por moradores dos vilarejos. Por mais que este cuidado seja constante em diversos países europeus, a atenção aos detalhes faz da Holanda uma referência na questão de planejamento de sua infraestrutura.
O uso das margens das águas para lazer e contemplação é frequente. Idosos, crianças, famílias e casais realizam trajetos de médias e longas distâncias sem preocupação. Além de funcionarem como grandes parques contínuos, verdadeiros oásis de tranquilidade inseridos em contextos urbanizados, pudemos observar os moradores locais em seus deslocamentos diários. Estas vias têm velocidade compatível com o uso de pedestres e ciclistas, e muitas vezes existe restrição ao uso de veículos maiores. É surpreendente como um deslocamento de grandes extensões pode ser percorrido de forma agradável e segura, com piso confortável, sinalização, e atrativos paisagísticos potencializados pela infraestrutura adequada. Novos empreendimentos imobiliários surgem próximos destes caminhos, o que sempre me leva a imaginar o quão agradável pode ser a vida de quem mora por ali.
Chama a atenção como o território holandês é bem aproveitado. Parece não haver um centímetro que não seja planejado, otimizado, e que comporte diversos usos e funções. O espaço para as pessoas ganha muito mais importância do que o espaço para carros. Graças a um desenho de rua reduzido, com preferência para aquele que é mais frágil, que eu sempre respondo “Holanda”, quando me perguntam “qual lugar do mundo é uma boa referência de planejamento e mobilidade”.
Texto e fotos: Walter Weingaertner