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O evento “Como tornar Lages uma cidade criativa?” abordou a inovação e a construção da identidade da cidade no cenário nacional, incluindo a descoberta dos potenciais e a aceleração criativa do seu território. A relação entre a inovação no planejamento urbano e os resultados práticos de desenvolvimento econômico tem tudo a ver com a chamada Blue Sky Research.
Blue Sky Research (“pesquisa de céu azul”, em tradução livre) é um tipo de pesquisa em que não há uma aplicação previamente definida. Conheci o conceito numa palestra de Serge Haroche, prêmio Nobel da Física, no encontro anual de pesquisadores da Fundação Alexander von Humboldt – instituição alemã que apoia essencialmente essa liberdade acadêmica.
Para exemplificar, Haroche apresentou cartões elaborados nos anos 1900 com ilustrações de como as pessoas imaginavam os anos 2000, e fez um contraponto com a realidade. Ele ponderou que a imaginação era limitada pelas tecnologias existentes e então, como prêmio Nobel da Física, explicou tecnicamente as pesquisas de Blue Sky que permitiram os avanços presentes no nosso dia a dia, ainda que a aplicação não tenha se dado no mesmo momento.
Apesar da defesa do físico, esse tipo de pesquisa encontra resistência para o seu financiamento, afinal não se sabe se haverá resultados práticos e nem garantias do retorno do investimento. Por mais que haja incertezas, os 55 prêmios Nobel ostentados pela Fundação Humboldt demonstram de forma inquestionável o sucesso dessa liberdade acadêmica. Blue Sky Research é a pesquisa que mais permite a expressão da criatividade, que é a base da inovação.
Assim deve ser a cidade: permitir que seus moradores tenham um ambiente que estimule a criatividade e a inovação. É possível traçar uma relação direta entre uma cidade aprazível, com parques, rios limpos, praças e centros humanizados, com a qualidade de vida, a saúde e até mesmo o desenvolvimento econômico de uma cidade, ainda que esses resultados não sejam tão facilmente mensuráveis.
Um bom exemplo é a cidade de Essen, na Alemanha. A cidade precisou se reinventar. Mesmo com diversos incentivos para as empresas, Essen não conseguia atrair as pessoas e reter os talentos. O principal motivo era a oferta de empregos em cidades reconhecidas pela sua qualidade de vida, como Munique. As pessoas desejam muito mais do que salários: elas querem um bom lugar para viver. Então a cidade está passando por um amplo processo de reestruturação, através da redescoberta do seu patrimônio histórico, da recuperação do seu rio e do incentivo à arte.
Se até pouco tempo era preciso estar numa grande cidade para ter acesso às estruturas, facilidades e contatos, a tecnologia hoje nos permite trabalhar de onde quisermos. E as pesquisas confirmam isso: cada vez mais pessoas desejam trabalhar remotamente. Podemos morar numa cidade mais agradável e trabalhar via internet.
Nesse contexto, Lages é uma cidade que tem diversos ingredientes para se tornar uma referência: dona de uma história rica, uma localização estratégica e um ambiente natural favorável. A cidade precisa agora redescobrir seus potenciais e transformá-los em vetores da sua identidade, gerando sentimento de pertencimento, qualidade de vida e interações sociais. Para o futuro da cidade, é essencial que ela se desenvolva com suas características próprias, e que a natureza e a escala humana sejam as bases para o planejamento territorial.
Lages precisa ter seu momento “Blue Sky” no planejamento urbano. Para construir novos sonhos para a cidade. E se no futuro a pedreira virasse um lago, como uma praia urbana no centro da cidade?
Fotos: Walter Carlos Weingaertner
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