Por Yasmine Holanda, Revista Versar
Cidades humanas: arquiteta Carolina Nunes, de Blumenau, aposta no conhecimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas
Carolina Nunes foi reconhecida como uma jovem líder na área da arquitetura e urbanismo. Foto: Leo Munhoz
A arquiteta blumenauense Carolina Nunes acaba de retornar da Alemanha, onde participou, durante um ano e meio do programa Bundeskanzler Stipendium, voltado para jovens líderes dos EUA, Rússia, Índia, China e Brasil e patrocinado pela chancelaria alemã. A pesquisa teve como tema Rios e Cidades, que tem tudo a ver com Santa Catarina. Agora de volta ao Estado, ela e o companheiro Walter Weingaertner se dedicam ao projeto Humanität, que busca conscientizar as pessoas sobre a relação com as cidades. Veja como foi o nosso papo:
Conta um pouco mais sobre o tema da pesquisa que você desenvolveu durante o programa.
Sou de Blumenau, então o rio Itajaí-Açu é muito presente na nossa vida. Ao mesmo tempo em que temos uma relação de carinho e cuidado com ele, tem as enchentes frequentes. Quando comecei a estudar Arquitetura na UFSC, tivemos que escolher uma região para um trabalho da disciplina de Planejamento Regional. Escolhi o Vale e foi uma surpresa. A gente sempre teve a ideia de que, para prevenir as enchentes, seria necessário retificar o canal e concretar as margens. Aí descobri que na Alemanha isso já era ultrapassado, que eles já estavam renaturalizando os rios. Fiquei encantada com esse conceito. Durante o programa, em uma das visitas técnicas, perguntei ao diretor de cidades da Agência de Cooperação Técnica Alemã que conselho ele daria para Blumenau. Ele respondeu: “recomendo que vocês olhem o que a gente fez com os nossos rios. Gastamos muito dinheiro para concretar e retificar e agora estamos gastando ainda mais para desfazer isso tudo”.
Qual a proposta do Humanität?
Surgiu de uma grande inquietação minha, há muitos anos. A gente não discute com seriedade a pergunta que deveríamos fazer o tempo inteiro: como a gente quer viver nas cidades? Como deveria ser a nossa vida nas cidades? Vejo nossa qualidade de vida se deteriorando e as discussões ficam muito na questão do trânsito e das emergências. O poder público se concentra nisso, a iniciativa privada se preocupa em fazer empreendimentos e a sociedade civil não tem, de modo geral, conhecimento de melhores exemplos. Não conhece outras referências e modelos. A gente criou o Humanitat para melhorar a qualidade de vida das pessoas na cidade. Acredito que com conhecimento técnico, vontade política e sociedade empoderada conseguimos fazer grandes mudanças. Temos o intuito de trazer esse conhecimento e de implementar as melhores práticas e exemplos do mundo nas cidades do Brasil.
Assista à entrevista:
Bons exemplos temos sempre. Mas temos que focar em nosso potencial. A natureza aqui é fantástica e a biodiversidade da Mata Atlântica é maior que a da Europa inteira. Temos um enorme potencial de paisagem. Mas tem que ter acesso. Por que não há um caminho só para bicicletas e pedestres em todos esses morros? Olha só o potencial de parques lineares e caminhos que conectem a cidade.
E quais os desafios que precisamos encarar para termos cidades mais humanas?
O principal desafio é o empoderamento da sociedade. Nenhuma decisão deveria vir de cima para baixo, deveria ser sobre o que a sociedade quer. Antes de ir para a Alemanha, eu achava que eles tinham todo um conjunto de regulamentações para manter as cidades daquela maneira. Lá, vi que elas são assim porque a sociedade briga muito para que elas sejam assim.