Verde e azul são duas cores que parecem não combinar juntas, mas quando se olha em volta, são as cores que dominam a natureza. O verde representa nossas florestas, parques e jardins. Azul é o produto do reflexo da água em nossas retinas.
Então, é possível imaginar que a infraestrutura verde e azul diz respeito a como podemos viver dentro de maior respeito ao meio ambiente, e com menor dependência do concreto e do asfalto.
A chamada “Blue and Green Infrastructure” se propõe a resolver os problemas funcionais de uma cidade de maneira mais econômica, privilegiando a preservação ambiental e beneficiando as pessoas.
Dentro desse modo de planejamento, obras de infraestrutura construídas funcionam em conjunto com espaços naturais ou seminaturais, como lagos, tanques, pomares, gramados e cursos d’água. Em conjunto, serão importantes para situações como retenção natural de água de chuvas ou marés, bem como a drenagem, mobilidade, produção sustentável de alimentos e, claro, recreação. A paisagem, assim, torna-se uma nova forma de se desenhar a infraestrutura, a partir de processos naturais.
O modelo tradicional de drenagem urbana é formado por redes interligadas de canalização subterrânea. Nas grandes cidades brasileiras, os investimentos de alto custo em tais obras de saneamento não conseguem dar conta de toda a drenagem necessária. Com chuvas fortes, os alagamentos e enxurradas são uma constante.
O conceito “green and blue” poderia complementar a estratégia tradicional e cara, com a criação de áreas verdes ajardinadas que funcionam também como um mecanismo natural de drenagem. Trata-se de um sistema misto, em que a canalização comum recebe o auxílio da natureza.
Vale para outros sistemas. Ao invés de se apostar num modelo que só funciona com um meio de transporte – como o rodoviarista, destinado a veículos motorizados – é possível conceber junto à paisagem uma infraestrutura multifuncional, onde os parques acolhem outros fluxos de mobilidade, como o cicloviário.
A infraestrutura, em casos como da Holanda, também dá condições para a utilização do espaço para muito mais do que apenas locomoção. Ele pode solucionar outros problemas do planejamento urbano. Junto com o passeio de bicicleta, um parque também pode melhorar a drenagem urbana. Em vez de só aumentar a tubulação subterrânea, uma obra cara e que fecha a rua, há jardins e quadras esportivas, planejadas para eventualmente encherem de água, evitando alagamentos.
Um projeto holandês que avança muito nesse sentido é o projeto Water Squares – “praças de água” em português – que se preocupa com a drenagem mas oferece ainda espaços de lazer, esporte e saúde para a população.
Na Dinamarca, por política do governo federal, as cidades precisaram fazer plano de adaptação às mudanças climáticas. Com as principais cidades sujeitas ao aumento dos níveis das marés e períodos de chuvas intensas, precisam minimizar perdas por eventos extremos de água. Estudos contratados mostraram que a adoção da infraestrutura verde e azul torna as obras necessárias para mitigar as cheias muito mais econômicas. O valor é de um quarto do custo para todos os projetos, em comparação com o modelo tradicional de drenagem urbana, segundo pesquisadoras da Universidade de Copenhagen. Há outras situações interessantes que envolvem os contratos das companhias contratadas para o serviço, como o limite de dez centímetros de altura para o alagamento de ruas, que não pode ser ultrapassado na capital Copenhagen. Assim, a empresa de serviços públicos decidiu-se pela solução mais econômica, envolvendo conceitos de “green and blue” junto com a solução tradicional.
Curioso é como um modo de pensar tão criativo, barato e útil encontra ainda pouco eco no Brasil. A multifuncionalidade da infraestrutura verde e azul deveria ser considerada aqui. Agregar a uma estrutura funcional valores ambientais, como áreas naturais e ajardinadas, e valores sociais, como parques e quadras, é também uma solução mais econômica para as cidades brasileiras. Isso é resolver problemas de forma sustentável através do desenho urbano.