Novas referências para rios e cidades
20 de setembro de 2019

Queremos cidades mais integradas com os rios. E uma boa maneira de elaborar novas propostas começa com estudos de caso, conhecendo boas soluções já executadas.

Porém, a maioria das referências de revitalização traz uma imagem de rio com margens de concreto e muita interferência humana, como degraus, decks e mobiliário urbano. São as imagens que chegam ao poder público e à sociedade. Essas ideias geralmente se referem a um rio localizado em área central, que fora intensamente modificado ou estava muito degradado, com pistas de automóveis nas margens, canalizado e até mesmo enterrado. Nesses casos, faz todo o sentido lançar mão de abordagens mais urbanas. Há exemplos bem conhecidos de revitalização nesse conceito, como o rio Cheonggyecheon (Coreia do Sul) e o rio Manzanares (Espanha). São soluções interessantes (que vão além da estética), mas as imagens deveriam vir acompanhadas da reflexão do “antes x depois”, para demostrar a evolução em relação a uma situação anterior bastante desfavorável.

Mas esse não é o caso de muitos rios em cidades brasileiras. Não faz sentido derrubar longos trechos de mata ciliar, e muito menos construir muros de concreto, com o objetivo de deixar o rio parecido com a imagem da referência internacional. Não é só através do conceito estético (e dessa tentação que nós arquitetos temos de desenhar elementos arquitetônicos fortes e linhas expressivas) que se faz uma boa integração entre o rio e a cidade. Há vários bons exemplos que integram cidade e natureza através dos rios.

O meu preferido é com certeza o rio Isar (Alemanha). O rio que cruza a cidade de Munique era contido em margens fixas e retificadas, cenário que foi requalificado com a sua renaturalização. A renaturalização, ou seja, permitir que o rio volte a ser mais natural, tem 3 objetivos: melhor proteção contra cheias, melhores condições para a fauna e flora e melhores espaços públicos para o lazer das pessoas. Isso incluiu a retirada do concreto e das pedras que continham o desenho reto do Isar, proporcionando contornos mais naturais.

 

Time lapse das obras de renaturalização do Isar. A ideia é dar mais espaço para o rio.

 

Não parece, mas este cenário foi construído. E está em constante mudança: o próprio rio se encarrega de encontrar seu novo desenho – solução apropriada para onde há espaço disponível.

 

Um parque ao longo do rio não precisa ser aquele antigo modelo de rio-concreto-calçada. Neste exemplo, temos a área de moradia, ciclovia e calçada, a mata ciliar e o rio (que não aparece na imagem).

 

Na área de vegetação ciliar, podemos ter pequenas trilhas e pontos de acesso ao rio, de uma forma mais integrada com a paisagem natural. O parque de lazer, com ênfase no uso humano, fica fora da área de preservação.

 

No centro de uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes, é apropriado termos áreas mais urbanizadas, onde podemos ter as escadarias, gramados, decks e bancos. O foco da região central é o uso humano. Podemos pensar em uma certa “rugosidade” (como arbustos e forrações) para minimizar os impactos no corredor ecológico.

 

Em bairros residenciais, a paisagem natural volta a ter preferência. Neste pequeno afluente do Isar, temos um parque para a comunidade. A mata ciliar está presente, com um pequeno ponto de abertura e acesso ao rio. O mobiliário urbano é também mais natural, com troncos e pedras utilizados como bancos.

 

Fotos: Walter C. Weingaertner

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