Mobilidade e democracia
16 de junho de 2017

O economista Enrique Peñalosa, prefeito de Bogotá, é bastante claro quando fala da mobilidade, e das políticas que instituiu e se tornaram referência para inúmeras cidades da América Latina – entre as quais, até mesmo Blumenau.
Peñalosa defende que uma cidade avançada não é aquela onde até os pobres usam carros, mas onde até os ricos usam transportes públicos. Para ele, a mobilidade é uma nova expressão de liberdade, e uma das alavancas para a prática da democracia e equidade.

A Holanda, onde passei uma temporada de estudos, é um país com renda per capita superior a dos Estados Unidos. Mas 30% da sua população usa a bicicleta como meio de locomoção.

Até mesmo os famosos canais holandeses são ótimas opções para ligações entre as cidades através das bicicletas. Entre Haia e Roterdã são aproximadamente 25 quilômetros. E em todo o trajeto a bicicleta é tratada como prioridade. Isso se reflete no desenho, no piso, nas preferências nos cruzamentos, nas rótulas, nos detalhes – há, por exemplo, bombas de ar pelo caminho -, na preocupação e qualidade de tudo o que se relaciona com a bicicleta.

Nada mais justo e democrático. Porque um cidadão que se locomove numa bicicleta de 50 euros, como é o caso da minha, tem direito ao espaço, a usar a cidade, e usar a cidade com qualidade e segurança. A divisão do espaço público é mais justa. Um símbolo de democracia.

O que teria Blumenau a ver com essa ideia? A divisão do espaço avançou, sem dúvida, quando foram implementados os corredores de ônibus, já que estes poupam em 17 vezes o espaço ocupado por carros para transportar o mesmo número de passageiros. Como diz Peñalosa, o fato dos ônibus do transporte público se deslocarem depressa enquanto carros caros ficam parados no trânsito não deixa de ser uma imagem da democracia em funcionamento.

Mas é possível avançar ainda mais. Embora a cidade seja caracterizada por morros, nossos bairros mais populosos, como Garcia, Velha e as Itoupavas, se ligam ao Centro praticamente no plano. Não faltam ribeirões conectando a cidade ao centro e ao rio Itajaí-Açu. Dar prioridade para o ciclista e o pedestre é privilegiar a equidade na divisão do espaço público.

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